O islamismo radical tem uma aversão visceral ao Ocidente.
É uma repulsa muito profunda que faz equivaler o Ocidente a um passaporte para o Inferno.
Perceber bem o cerne desse antagonismo nos nossos dias é um trabalho ainda por fazer. Não há outra cultura com a mesma expressão numérica que tenha essa relação conflitual tão intensa.
Muitos dos líderes do Islão tiveram contacto prolongado com Ocidente ou vivem ainda no Ocidente. Trata-se de gente que repudia não o desconhecido mas o que conhecem relativamente bem.
Julgo que há três fenómenos no Ocidente com que o Islão lida particularmente mal. Dois são culturais e um é político. O fenómeno político reside principalmente nos USA e na sua projecção de força em quase todo o lado. Os fenómenos culturais, não filosóficos mas culturais, que mais se afiguram como uma ameaça são o ateísmo (ou algumas formas de agnosticismo) e a pornografia.
Ambos perturbam o íntimo dos islamitas tal como ambos perturbam o íntimo do cristianismo. Se expuséssemos a Europa medieval e até renascentista à expressão que hoje têm o ateísmo/agnosticismo e a pornografia, a reacção seria muito mais agressiva do que aquela que alguma vez vimos da parte do Islão. A evolução do Ocidente no sentido da tolerância actual é um processo de mudanças lentas, degrau a degrau ao longo de séculos. No Islão não há essa oportunidade. A adoptar qualquer mudança o Islão sabe bem qual é o resultado final. E é esse resultado final que os fundamentalistas e mesmo muitos moderados recusam.
O facto de aparentemente ser vulgar encontrarem-se materiais pornográficos em cofres quando se atacam bunkers de líderes terroristas islâmicos, como aconteceu com Bin Laden, nada muda nesta equação. Os líderes acham-se com a preparação para enfrentar esses "demónios" sem vacilarem na sua fé mas o turbilhão interno de pulsões que a pornografia liberta e a dúvida interna que o ateísmo ou o agnosticismo lhes suscita, dá-lhes uma medida da ameaça dessas ideias ao Corão.
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